Indígenas resgatados no PR viviam 'situação de servidão por dívida', com gastos em alimentação descontados de salário que eles sequer receberam, diz auditor

  • 23/10/2025
(Foto: Reprodução)
Indígenas resgatados no PR viviam em situação de servidão por dívida, diz auditor Os indígenas resgatados em condições análogas à escravidão em Itambé, no norte do Paraná, foram obrigados a anotar em um caderno gastos feitos em um mercadinho. Segundo o auditor fiscal do trabalho, Edvaldo dos Santos Rocha, os valores seriam descontados de um salário que as vítimas nem chegaram a receber. Ao todo, 57 trabalhadores foram resgatados, sendo 46 indígenas da etnia Guarani Kaiowá. Todos foram trazidos do Mato Grosso do Sul com a promessa de emprego em uma usina. A operação que resgatou os trabalhadores foi coordenada pela Auditoria-Fiscal do Trabalho. Clique aqui para mais detalhes. Nesta quinta-feira (23), os trabalhadores receberam o pagamento e puderam voltar ao estado de origem. O transporte deles foi escoltado por equipes da Polícia Rodoviária Federal (PRF). ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 Maringá no WhatsApp Conforme Edvaldo, o caderno encontrado com as anotações de gastos demonstra que os trabalhadores viviam em situação de servidão por dívida – quando um trabalhador adquire uma dívida que deve ser paga com mão de obra. Com os depoimentos colhidos, a Secretaria de Inspeção do Trabalho estima que essa dívida seja de aproximadamente R$ 45 mil. "A fiscalização constatou que havia servidão por dívida, com um caderninho, onde eram descontados itens de mercado. Os empregados passavam fome para ter que comprar no mercadinho e assim ficar endividados. [...] Ele começa a trabalhar para pagar aquela dívida, isso vai crescendo e chega a uma situação que, se ele receber dinheiro vai estar penhorado, pois o salário é feito pra essa dívida", explicou Edvaldo. Gastos das vítimas eram anotados em caderno para serem descontados de salários que nem tinham recebido. MPT Em negociação com o Ministério Público do Trabalho (MPT) e a Polícia Federal (PF), a usina Renuka Vale do Ivaí S/A se comprometeu a quitar todas as verbas salariais e rescisórias, por meio de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). O MPT informou que existe um inquérito civil contra as empresas, visando a tomada de medidas na esfera extrajudicial e judicial. Também está prevista a propositura de uma ação civil pública, com pedido de dano moral coletivo. Leia também: Saúde: Mãe de advogada que resgatou família em incêndio no PR acorda e respira sem ajuda de aparelhos Cascavel: Estado de saúde de advogada que salvou família de incêndio é gravíssimo Governo do Paraná: Servidora é condenada a 10 anos de prisão por desviar dinheiro público Trabalhadores estavam sem alimentação, transporte ou itens básicos de higiene Fiscais do Ministério do Trabalho resgatam indígenas em situação semelhante à escravidão no Paraná Os trabalhadores saíram do Mato Grosso do Sul com a promessa de trabalhar na Usina Renuka Vale do Ivaí S/A, em São Pedro do Ivaí, com um contrato feito pela empresa terceirizada Manutec Manutenção e Conservação LTDA. O processo seletivo foi realizado em três aldeias. De acordo com a Secretaria de Inspeção do Trabalho, os trabalhadores foram contratados para atuar no serviço de corte de cana-de-açúcar. O trabalho no Paraná começou no dia 14 de julho, mas foi encerrado e as vítimas foram abandonadas no alojamento. Segundo a Secretaria, as vítimas estavam sem alimentação, transporte ou itens básicos de higiene. Para que conseguissem se alimentar, dependiam de doações. "O mais grave que eu identifiquei foi a fome. É inexplicável o ato de você não ter o que comer. Esses trabalhadores estavam lá desde julho, boa parte, e tinham recebido zero de salario. Eram indígenas e não tinham para onde ir. Isso foi muito grave", disse o auditor. Elas também não recebiam salário, estavam sem registro na Carteira de Trabalho e Previdência Social e não passaram por exames de admissão. Os quartos não possuíam espaço adequado ou armários, além de acumular lixo. Um dos trabalhadores foi picado por uma aranha neste alojamento e foi hospitalizado. Vítimas saíram de Mato Grosso do Sul e foram abandonadas em alojamento no Paraná, sem salários. Secretaria de Inspeção do Trabalho Os auditores-fiscais do Trabalho identificaram que houve trabalho escravo tanto em relação à usina tomadora quanto à empresa terceirizada. Com o rompimento contratual entre as empresas, os trabalhadores foram impedidos de entrar na usina e abandonados no alojamento, sem alimentação. O aluguel do local também não estava sendo pago, conforme a nota divulgada. "Este foi o maior resgate de trabalhadores em condições análogas à escravidão registrado no Paraná nos últimos anos", diz a nota da Secretaria de Inspeção do Trabalho. Alojamentos não tinham espaço adequado e acumulavam lixo. Secretaria de Inspeção do Trabalho A Usina Renuka informou à RPC, afiliada da TV Globo no Paraná, que "coopera com as autoridades para a resolução do caso". Ao g1, a Manutec enviou uma nota dizendo que rompeu o vínculo com a Renuka em outubro, devido à falta de condições financeiras e estruturais provocadas pela inadimplência da contratante. Disse também que a própria empresa foi a primeira a denunciar o caso dos trabalhadores às autoridades. Veja abaixo a nota na íntegra. O g1 tentou confirmar a informação com o Ministério Público do Trabalho, mas foi informado que o denunciante não poderia ser revelado. Trabalhadores foram resgatados de condições análogas à escravidão. Secretaria de Inspeção do Trabalho Manifestação da empresa Manutec A Manutec Manutenção e Conservação LTDA informa que não mantém mais qualquer vínculo operacional com a Usina Renuka Vale do Ivaí S/A desde o início de outubro de 2025, quando interrompeu suas atividades por falta de condições financeiras e estruturais provocadas pela inadimplência da contratante. Desde setembro, a Manutec enviou diversas notificações extrajudiciais e comunicados oficiais ao Ministério do Trabalho, Ministério Público do Trabalho e à própria Usina Renuka, alertando sobre: a falta de repasses contratuais que inviabilizavam o pagamento e manutenção adequada dos trabalhadores; os riscos de colapso nas condições de alojamento e transporte; e o temor por segurança diante de ameaças e abandono de responsabilidade por parte da contratante. Em razão dessa situação, a Manutec se retirou do local de forma preventiva, comunicando as autoridades competentes antes da operação de resgate noticiada. Reforçamos que: A Manutec foi a primeira a denunciar oficialmente as irregularidades junto aos órgãos públicos; Não participou de qualquer ato que tenha resultado nas condições relatadas após sua saída; E permanece à disposição das autoridades para colaborar com as investigações e apresentar toda a documentação comprobatória das notificações e comunicações feitas. A empresa reafirma seu compromisso com a legalidade, a dignidade do trabalho e o respeito absoluto aos direitos humanos, repudiando qualquer forma de violação trabalhista. ⚠️Como denunciar O Sistema Ipê, disponível pela internet, é um canal específico disponibilizado pela Organização Internacional do Trabalho para denúncias de trabalho análogo à escravidão. O denunciante não precisa se identificar, basta acessar o sistema e inserir o maior número possível de informações. A ideia é que a fiscalização possa, a partir dessas informações do denunciante, analisar se o caso de fato configura trabalho análogo à escravidão e realizar as verificações no local. Saiba como denunciar crimes no Paraná VÍDEOS: mais assistidos do g1 Paraná Leia mais notícias no g1 Norte e Noroeste

FONTE: https://g1.globo.com/pr/norte-noroeste/noticia/2025/10/23/indigenas-resgatados-no-pr-viviam-situacao-de-servidao-por-divida.ghtml


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